Estamos vivendo, nos últimos dias, um momento bem delicado, meu leite aos poucos está diminuindo e em alguns momentos não consigo atender ao pedido do meu pequeno. Certa noite, por volta de 23h o Gabriel pediu mama e eu só consegui amamentá-lo a 1h da manhã, não havia nenhum tipo de leite em casa que eu pudesse dar a ele, e fui enrolando até finalmente o leite descer. Mesmo ele com 9 meses, comendo de tudo, a ideia de ter que recorrer ao leite artificial, mesmo que apenas em último caso, deixa-me muito chateada. E com esse “fim” se aproximando, peguei-me pensando no começo, em tudo o que vivemos: nas dificuldades, nas dores, no desespero, nos pensamentos negativos, na força e persistência, e venho dividir com vocês como foi minha experiência em amamentar até aqui.
Já começo dizendo que se tem uma coisa que a experiência me ensinou é que AMAMENTAR NÃO É LINDO E MUITO MENOS PRAZEROSO como retratam os comerciais de TV (sei que vou causar polêmica mas é minha opinião baseada no que vivenciei), pelo menos não no começo. Amamentar dói, machuca, sangra, cansa, desgasta, faz nos sentirmos péssimas por vezes, até mesmo por passar pela cabeça o pensamento de desistir (sim, pode acontecer).
Amamentar é um processo de aprendizado, você e o bebê sabem exatamente o que devem fazer, mas não sabem como. São dias ou até semanas de aprendizado de ambas as partes, e nesse período precisamos ter muita calma, paciência, compreensão para conseguirmos lidar com a situação e não desistir (e é muito difícil). Eu me recordo que já no hospital tive muitas dificuldades. A primeira mamada, assim que o Gabriel chegou no quarto, foi uma beleza, chorei de emoção na hora, porém as demais mamadas ainda estavam por vir (risos). Sempre que o Gabriel queria mamar e eu tentava ajudá-lo, fracassava. Não entendia como aquilo era tão difícil. O que me deixava mais chateada ainda, era quando eu recorria a ajuda de alguma enfermeira, ela magicamente fazia o pequeno abocanhar meu seio, mas bastava ela sair do quarto para o pequeno largar o seio e começarmos a batalha tudo de novo. E a segunda madrugada que ele resolveu ficar “chupetando” no meu seio, aiai… Lembranças.
Porém, chegar em casa nos deu uma certa tranquilidade e confiança a mais (sim, senti que o pequeno também estava melhor em casa do que no hospital), e a “luta” continuava. Luta constante para ser forte e dar para aquele pequeno ser, tudo o que ele precisava, amor e carinho em forma de alimento. E ao longo dos primeiros dias meu seio rachou, sangrou, o pequeno recusou o seio machucado, o que sobrecarregou o outro, tive que usar bombinha, minha nossa quanto leite. Haja pomada de lanolina para cicatrizar as rachaduras (fica a dica, eu usei Lanidrat, não tem necessidade de lavar o seio antes da mamada). Mas a medida que o tempo passava, aprendíamos cada vez mais a lidar com a situação, até finalmente ambos estarmos craques no quesito amamentação :D. Começava a gostar daquilo, mas ainda estava no modo automático.
Ai veio a primeira “crise”. Por volta de 1 mês e meio, passamos pelo nosso primeiro pico de crescimento (falo sobre isso nesse post aqui), e durante esse período, havia momentos do dia em que o Gabriel mamava de hora em hora, insaciável. Comecei a me desesperar achando que não tinha leite suficiente ou que talvez essa história de leite fraco fosse mesmo verdade. Procurei informações na internet e me deparei pela primeira vez com o assunto “Picos de crescimento e Saltos no desenvolvimento”, e lendo a respeito, comecei a me tranquilizar e continuar firme na minha jornada. Era normal, todo o bebê passa por isso, em resumo os bebês não crescem gradativamente, dia após dia, na verdade eles tem uns períodos de estirão, e por isso, nessa fase eles necessitam de mais alimento. Por sinal, geralmente é nessa fase que muitas mamães param de amamentar, por achar que não possuem leite suficiente ou que o leite é fraco ou ainda por não aguentarem a situação cansativa (ouvi muitas histórias de mães que pararam nessa fase, inclusive uma amiga que parou de amamentar mas incentivou-me a continuar, dizendo que era normal e tals). Mamães, fica o alerta: você tem leite suficiente sim e ele não é fraco, a medida que o bebê solicita o leite materno, nosso organismo se adapta a necessidade e aumenta a produção, e mais, é um momento passageiro, como toda a fase que o bebê vive, dura dias, no máximo semanas, e após essa fase a rotina volta ao normal. Então, tentem ser compreensivas, fortes e tenham um pouco de paciência, por mais difícil que possa ser. Você é capaz, acredite em si mesma!!!
Bem, voltando… depois dessa fase as coisas simplesmente começaram a fluir. Eu sai do automático – acorda, mama, troca fralda, coloca pra dormir (e chora em todos esses momentos) – e passei a curtir aquele ser, a olhá-lo com admiração, com amor. E ele também, estava diferente, olhava-me fundo nos olhos, sorria as vezes (eu acho), retribuía meu afeto.
Os meses foram passando, algumas crises indo e voltando, picos de amamentar demais, de menos, momentos em que eu cansava e dizia que não aguentaria mais amamentar (besteira, falava da boca pra fora) e contando os meses para atingir, no mínimo, minha meta. Desde que eu engravidei, sonhava com a amamentação, e dizia a mim mesma que seria forte e o amamentaria pelo menos até o 6 meses (tempo mínimo recomendado pela OMS).
Finalmente o Gabriel completava 6 meses. Desde os 5 meses comia algumas frutas e tomava sucos e agora começaríamos mais uma etapa: almoço e jantar, teria uma folga na amamentação nesses horários. E foi exatamente o que aconteceu, o pequeno se adaptou tão bem a papinha salgada, que raramente precisava complementar com leite materno na sequência, e com o intervalo sem amamentar, o leite havia aumentado, mas por pouco tempo. Assim que a rotina se instalou, meu organismo também se adaptou, porém também começou a dar os primeiros sinais de que talvez o fim da amamentação estivesse próximo. Em alguns momentos, no horário de amamentar, o leite demorava a descer, as vezes 5, 10 minutos, era frustrante pois o pequeno não entendia e ficava, algumas vezes, desesperado. Mas ainda assim mantive-me firme e insistente. Nessa fase começaram a aparecer os primeiros dentinhos, e a ansiedade de o pequeno morder meu seio e eu desistir de amamentar por isso. Ouvi cada história horrível sobre o bebê morder o seio da mãe até sangrar, arrancar um pedaço do bico do seio… e cheguei a conclusão que não existe meio termo para uma contação de histórias maternas: ou são 100% lindas ou 100% assustadoras, tem que se ter muito pé no chão (risos). De qualquer forma nada aconteceu, algumas leves mordiscadinhas quando ele cochilava durante a mamada, mas possíveis de sobreviver
Com 8 meses, o Gabriel contraiu sua primeira virose, junto com ela apareceu uma feridinha na garganta que o fez recusar a papinha salgada, doce, e passou a mamar apenas. Achei que ia enlouquecer. A sensação de fracasso por regressar a rotina do começo era frustrante, e muito, muito difícil. Foram quase 2 semanas de amamentação exclusiva novamente, e apenas no seio. O medo de começar tudo de novo, de ele não aceitar mais o alimento sólido, de finalmente eu desistir e partir para o leite artificial. Mas passou, superamos mais essa fase e a rotina tranquila voltou a reinar em casa.
Hoje, o Gabriel está com 10 meses (comecei a escrever esse texto há 1 mês +/-), alimentando-se super bem de sólidos, já tem seus sabores preferidos, desfrutando do leite materno 3x ao dia que ainda não secou e não falhou bruscamente a ponto de recorrer ao leite artificial… E quem diria, tenho pensado sobre amamentar até os 2 anos de idade (ou pelo menos o quanto eu ainda for capaz). Nunca pensei que um dia cogitaria a possibilidade e nunca pensei que um dia eu diria que gosto de amamentar, que hoje sinto prazer e muito amor ao vê-lo se alimentando de mim. Foi uma difícil jornada até aqui, sem dúvida, como ouço muitas mães dizerem “ser mãe é padecer no paraíso”, fato, mas a satisfação de missão cumprida não tem preço. Olhar para trás, ver toda aquela dificuldade e perceber o quanto fui forte e guerreira (e por favor “super mamães” sem aqueles clichês de que eu não fiz mais que a minha obrigação ok) simplesmente não tem preço.
E como eu disse no começo desse relato “AMAMENTAR NÃO É LINDO E MUITO MENOS PRAZEROSO”, mas realmente isso é só no começo, porque ao longo do tempo, o aprendizado a dois é tão intenso, que aos poucos, supera toda a dificuldade vivida.